X - Justum Pretium

Plínio não conseguia perceber o que é que Zeus poderia querer dele, ou do que poderiam falar, mas lá foi atrás de Geraldus. Sentia algo muito estranho na barriga. Não sabia se era nervosismo ou era do seitan, mas não se sentia nada bem. Chegaram em frente à estátua de Zeus e tanto Plínio como Geraldus não conseguiam evitar o ar de espanto perante a magnificência da estátua…
- Bom, agora temos de falar com ele…
- E como é que fazemos isso? - Pergunta Plínio, desconfiado…
- Ora bem, isso agora, então, isso é fácil, quer-se dizer, não custa nada…
- Não sabes, portanto.
- Sei, claro, sei, então já fiz isto tantas vezes, então… Não. Não sei.
- Eu calculei.
- Então, génio calculador, calcula lá como é que falamos com Zeus.
- Desculpa? Tu trazes me aqui, dizes que vimos falar com Zeus e agora eu é que tenho que arranjar maneira de falar com ele?
- Senhoras primeiro.
- …
- Vá lá Plínio, tu és, enfim, inteligente. Pensa lá como é que falamos com ele.
- Mas tu não fizeste isto diversas vezes?
- Sim. Não. Mais ou menos. Ficava sempre à porta. Nunca entrei.
- Mas porque é que eu coloco o meu destino nas tuas mãos?
- São uma belas mãos, eu ponho cremes, ora toca lá nelas…
- Não vou tocar nas tuas mãos…
- Não, toca-lá, sente lá a suavidade, vá lá…
- Meus Deus, porquê a mim!
Assim, que proferiu estas palavras, o chão começou a tremer a estátua de Zeus ganhou uma luz sobrenatural, ganhando subitamente vida. Plínio e Geraldus ajoelharam-se perante o Deus, que rapidamente lhes dirigiu a palavra:
- Eh, tu aí, oh peludinho, como é que te chamas?
- Pl.. Pl… Plínio Plagius.
- Plagius, então tu entras no meu templo, paras diante a minha estátua e dizes Meu Deus? – Diz Zeus, enquanto faz chão tremer.
- Ah, força do hábito, eu peço mil perdões oh grande Zeus!
- Sim – acrescenta Geraldus, enquanto une as duas mãos como se estivesse a rezar e se dobra perante Zeus – ele nem é homem para mentir, aliás, nem é homem, para começar, ele está arrependido.
- É bom que esteja. Ele devia dizer “Meu Zeus!”. Até porque soa melhor, o Z a seguir ao U, é uma coisa que flui, Meu Zeus! Meu Zeus! Repitam comigo! Meu Zeus!
- Meu Zeus! Meu Zeus! – Diz Plínio.
- Meu Zeus! Sim, é realmente fantástico, as palavras flúem, a língua desliza, as cordas vocais rejubilam – Acrescenta Geraldus – Meu Zeus!
- Ora bem, então digam-me, formigas, que desculpa é que vão dar para não vos pisar?
- Meu Zeus, grande Zeus, aqui o Plínio acha que é mau e tal..
- Eu? – Diz Plínio assustado – Eu não sou nada mau, eu sou dócil, pareço um gato, veja lá o pêlo, Zeus!
- Cala-te Francisca! – Exclama Geraldus – Aqui o Plínio quer fazer os 12 trabalhos de Ulisses!
- Ai sim? – Pergunta Zeus, curioso.
- Melhor!
- Melhor? – Perguntam Plínio e Zeus, confusos.
- Sim – Diz Geraldus, claramente inventando à medida que iam falando – Ele vai fazer 13 trabalhos!
- 13?! – Pergunta Plínio indignado.
- 13! E meio! 13 e meio! Plínio vai fazer 13 trabalhos e meio! E não vão ser os mesmos que Euristeu mandou Hércules fazer, nem pensar. Vai ser Zeus a escolher os 13 trabalhos e meio aqui do Plínio.
- Ah bom, isso é uma bela razão para não os pisar! – Exclama Zeus – Ora bem, então, farás os 13 trabalhos. E meio. E tu, treinador, não te rias muito. Se ele falhar, morrem os dois.
- E se ganhar tudo? – Pergunta Plínio.
- Que confiante que nós somos – Diz Zeus num tom jocoso. – Prepara-te, jovem, vou te dar a lista dos 13 trabalhos e meio. Apanha! – Exclama Zeus, enquanto lança um pergaminho na direcção de Plínio e Geraldus.
Plínio apanha o pergaminho no ar, e desenrola-o rapidamente, não contendo o nervosísmo:
- Ai mãezinha!
- Deixa ver! - Diz Geraldus.
Abriram o pergaminho, e as suas faces ficaram iluminadas pelo brilho que emanava da lista. Contiveram a respiração, engoliram em seco, e começaram a ler a lista:
1 - Serão Com As Parcas
2 - Coraçãozinho de Seitan
3 - Leão de Alvalade
4 - Hidra do Esgoto
5 - Ceptro de Rá
6 - Nêsperas das Hesperides
7 - Touro de Creta
8 - Cinturão das Amazonas
9 - Poeta Imperceptibilus
10 - Praticar o Bem sem se Prejudicar
11 - Encontrar os 5 Livros de Filosofia Perdidos
12 - Recuperar o Pergaminho "Adivinha Quanto Gosto de Ti"
13 - Esgrimar com R. Humanus
e Meio - Vencer Geraldus Numa Competição de Gladiador
Plínio ficou durante algum tempo sem saber o que fazer ou dizer… Já Geraldus, não conseguiu conter a admiração e disse, do alto da sua voz aguda:
- Então, Oh Zeus, com todo o respeito que me mereces, mas meio trabalho? Meio trabalho?! Eu, treinador de Gladiadores! Homem! Contra aqui a Maria Alice?! Meio trabalho? Devia era ser trabalho e meio!
- Silêncio, formiga! Só por teres sequer questionado a minha decisão, mudo o trabalho!
- Ah, boa! – Diz Geraldus.
- O trabalho agora consiste no seguinte: vais combater contra o jovem Plínio. E ele só completa o trabalho quando te fizer sangrar. Se não completar, morres. Que tal, já te parece melhor?
- Er… Não… Eu vou já falar com o sindicato dos antigos treinadores de voz esganiçada e carótidas salientes, e vou já tratar do assunto.
- Vais? – Diz Zeus, entre gargalhadas – Então experimenta lá ir, ouvi dizer que está a trovejar lá fora e tal… Vê lá se não te cai um raio em cima…
- Ah, se calhar então não vale a pena ir… - Responde Geraldus.
- Eu também acho.
- Pois, realmente, aquele sindicato não vale de nada e…
- Concordo.
- Eles também nunca ganham nada. Pensando melhor não vou a lado nenhum, aqui está-se bem, abrigado, quentinho, sem raios, eu fico já por aqui, se não se importarem.
- Muito bem Geraldus, vejo que não és tão insensato quanto aparentas.
- Obrigado…
- 13 Trabalhos e meio.. – Suspira Plínio.
- Vá rapaz, podes começar, vemo-nos daqui a um ano.
- 13 Trabalhos e meio…
- Vamos jovem Plínio, temos que encontrar as Parcas para passares um belo serão…
- 13 Trabalhos e meio…
Geraldus viu que o jovem estava completamente embasbacado, então levou a mão ao seu saco e tirou um pedaço de seitan, que abanou em frente do seu nariz.
- Isto deve acordá-lo…
- Mas que raio é isso?! – Pergunta Zeus, perplexo – Que substância horrenda!
- Ah Zeus, devias vê-lo a comer isto!
- Não obrigado!
- O quê? Quem? Onde? Quantas salsichas vegetarianas? – Diz Plínio, como se despertando violentamente dum sonho.
- Vá, vamos embora antes que Zeus se passe e nos esmague já aqui!
- Sim, está bem, vamos, mas para onde? Porquê?
- Vamos descansar, pelo caminho explico-te tudo.
Geraldus levou Plínio na sua carroça, e foi lhe contando, no caminho que os levava até ao local onde iriam pernoitar, o que se tinha passado no templo de Zeus, perante o espanto de Geraldus. Mas este, a temer pela vida, escondeu o conteúdo do último trabalho que Zeus lhe tinha revelado enquanto Plínio estava meio adormecido.
- Vais ver que não custa nada! – Diz Geraldus – Além do mais, é bom que consigas, porque eu quero viver. E que as gajas aí do mundo não vivem sem mim. O gajame, consegues ouvi-lo? Sempre que se fala na possibilidade de algo mau me acontecer ouve-se os gemidos tristes do gajame do império. Nem mais.
- Eu ainda devo estar meio adormecido…
- Vê lá se me respeitas, senão ainda te arranjo um namorado para te ajudar nos trabalhos, como o Ulisses tinha.
- …
- É melhor não senão ainda gostavas. Bom, dormimos aqui. Dorme bem, porque amanhã vais passar um serãozinho ameno com as Parcas.
- Mal posso esperar – Diz Plínio, ironicamente.
A verdade era que mal podia. Plínio, imbuído da sua força de vontade de leão, queria provar a Zeus que era homem. Queria provar que era capaz de vencer qualquer desafio e entrar triunfante no Coliseu de Roma.
Faltavam apenas 13 trabalhos. E meio…

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