XXXV - Nescit Vox Missa Reverti

O barco viajava a toda a velocidade rumo a Roma. Quando chegassem, teriam de ter todo o cuidado, pois as tropas romanas estavam preparadas. Só havia uma solução para conseguirem escapar: Juristus.
Juristus tinha ficado para trás, devido a uma queda de uma escada, enquanto treinava sapateado, que lhe imobilizou o ombro e o afastou do Pró Evolutionus MMVIII. Entretanto, aproveitara para tentar descobrir mais sobre as rotinas de César e para se infiltrar nas mais altas e exclusivas esferas do Senado. Não sabendo o que se passava com Plínio e os restantes (grupo que ele denominava de “Ursinhus Carinhosus”), aguardava ansiosamente por noticias deles.
Qual não foi o seu espanto quando, numa calma manha em que redigia mais uma ou duas leis quando lhe bateram à porta.
- Já vai, vá lá ver, que um gajo já não pode legislar como antigamente.
Juristus assusta-se quando, mal abre a porta, entra um indivíduo com uma capa preta, e se senta no primeiro cadeirão que encontra.
- Ah, isto é que é conforto. – Diz o estranho indivíduo.
- Mas que é isto?! – Juristus desembainha a sua espada. – Identifique-se.
- Oh, mas tu não me reconheces? Sou eu, o anjo na terra.
- Michael Landon?! Sou um grande fã Shõr Landon!
- Geraldus! Sancto Geraldus pá! – Geraldus tira a sua capa e revela-se a Juristus.
- Epá… Que susto. Entras na casa de um gajo assim, armado em infiltrado, queres me matar do coração?
- Não, nada disso. Mas é que eu… Como é que hei de explicar… Sou um mestre na arte da infiltração, do passar despercebido.
- Ai sim?
- Nem mais. Repara: uma vez, atenção, não vou te contar os detalhes para teu bem, tive de andar escondido durante uns tempos.
- Pois.
- Digamos que envolveu vinhas e uma carroça.
- Certo…
- De qualquer forma, eu andava sempre escondido. Atrás de pilares, por entre a multidão, eu era como o vento.
- Chato e frio?
- Não! Mortífero e invisível.
- Ah.
- Pois. Enfim. Ser bom tem destas coisas não é
- Acredito, acredito… Olha, já agora, o que é que vieste cá fazer? O Plínio e os outros?
- Ah catano! É isso! Eu vim cá pedir te ajuda para nos levares para um qualquer esconderijo secreto.
- E não dizias nada?!
- A conversa estava agradável: Bem, sendo assim, podemos contar com a tua carroça?
- Pá, não.
- Não, como?
- Não porque me caiu uma árvore em cima da carroça, fruto da intempérie.
- Que chatice ahn? E não me digas que…
- Reportei ao seguro, sim.
- Epá, isso é do pior meu. Eles atam-te a uma cadeira, vestem-te de cabedal e introduzem artefactos manhosos nos teus orifícios pá, e ainda te vendam a boca e …
- Geraldus, isso são os Sado-masoquistas.
- Ah. Então os seguros são..
- Aqueles gajos a quem tu pagas uma batelada de dinheiro e que depois, quando há problemas, não te ajudam em nada. Mas teve que ser.
- Sabes, eu sou contra os seguros.
- És?
- Sou. E o Menditus tem aquele seguro de saúde, pá, aquilo não me convence sabes?
- Não?
- Não. E eu digo te porquê. Em vez de pagar o seguro, junto o dinheiro. Depois quando há problemas, gasto o que for preciso. Mas fico sempre a ganhar. Tal como as seguradoras.
- Ah.
- Pois. Eu sempre te disse que era especial.
- Sim. E agora, podemos falar do Plínio?
- Ah1 Pois é! Temos de ir buscá-los ao porto!
- Vamos lá que eu arranjo uma carroça da empresa!
Lá seguiram os dois, rumo ao porto onde estava ancorado o barco que trouxe Plínio e os seus companheiros da Sardenha. Quando Geraldus conseguiu infiltrar-se no barco sem dar nas vistas, fez sinal a Juristus para que este entrasse à vontade, porque a costa estava livre.
- A costa está livre, Juristus! A costa! – Geraldus fazia com a mão a forma do porto e da enseada onde o barco se encontrava. – Está livre, percebes? A costa? A costa está livre! Tipo, isto é a costa, e está livre!
Juristus não ligou e entrou na cabine do barco, onde todos esperavam impacientemente.
- Geraldus! Onde é que andavas?! Nem para uma revolução chegas a horas! – Menditus saltou do seu lugar desesperado. – Não respeitas os teus amigos!
- Eu não tenho amigos… - Diz Geraldus calmamente. – Apenas conhecidos. Sou um gajo muito selecto.
- …
- Bem, - Juristus intervém. – E que tal sairmos daqui e irmos para um local sossegado e podermos, enfim, conspirar?
- Parece-me uma excelente ideia. – Gaius levanta-se e faz sinal para seguirem, e todos o seguem.
Juristus guiou a sua carroça até a uma zona segura, onde possuía algumas propriedades. Juntaram-se todos numa sala, e, depois de comerem alguma coisa, prepararam-se para discutir o assalto final a César.
O debate foi intenso. Existia uma ala mais conservadora, de Menditus, Gaius e Juristus, que defendiam uma entrada e actuação estratégica, enquanto que havia uma ala radical, composta por Plínio, Edgar e Salvadorus, que defendia uma acção pela força. Já Geraldus, representava a ala abichanada, não dando qualquer tipo de opinião válida e concreta.
Depois de muito discutirem, chegaram à conclusão de quem seriam os potenciais candidatos para sucederem a Júlio César. Menditus arranjou Ionus McCainus, veterano de guerra. Juristus arranjou Hilaria Clintonis, ex-primeira dama, e Geraldus apareceu cmo um candidato surpreendente: Barackus Obamas.
- Rapazes… - Diz Gaius, ponderado. – Temos aqui um problema… Se votarmos na Hilarias somo racistas porque não votamos no Obamas.
- Certo… Mas se votarmos no Obamas, - Diz Edgar. – somos machistas.
- Então e se votarem no McCainus? – Pergunta Salvadorus.
- São anormais. – Geraldus levanta-se e caminha à volta da mesa. – Já olharam bem para o McCainus? O homem parece um ciborgue!
- Ciborgue? – Pergunta Menditus.
- Não interessa, não vou explicar nada a agora. Ele está fora disto pá. Esqueça o McCainus. O Obamas é o caminho a seguir.
- Eu acho que ele não é negro o suficiente… - Diz Menditus, desconfiado.
- Não é… Não é negro o suficiente?! – Geraldus estava indignado. – Obamas, chega aqui! Estão a ver? Vejam. – Geraldus junta o seu braço ao braço de Obamas. – É mais negro que eu é negro!
- É um ponto de vista, mas…
- Mas? Ele não se vê sem luz! Menditus, apaga as velas…
- Oh Geraldus, não achas que..
- Menditus, apaga as velas!
Menditus apaga as velas e ficam todos em silêncio.
- Vêem o Obamas? – Inquire Geraldus.
- Não. – A resposta sai em coro.
- Lá esta´!
- Oh Geraldus, mas eu não te vejo a ti! Nem a ti nem a ninguém!
- Mas mesmo se visses não o vias a ele! É negro pá Ele nasceu em África.
- Por acaso até nasci em Roma e…
- Não nasceu nada, ele está a brincar. A mãe dele chama-se Matumba e o pai chama-me Dindi! É africano.
- Por acaso o meu pai chama-se Caius e a minha mãe chama-se Catilina.
- Isto é ele a delirar por causa do sol africano, não liguem. – Geraldus ia fazendo sinal a Obamas para se calar. – Ele vai ser o nosso candidato. E eu vou ser o governo sombra.
- Logo vi.. – Plínio abanava a cabeça em sinal de desaprovação.
Voltaram a sentar-se à mesa e planearam em detalhe o ataque a Roma. Seria em breve e o nervosismo ia crescendo dentro de cada um deles. Sabiam que estavam destinados a grandes coisas. Sabiam igualmente que não iria ser fácil, que tudo e todos estavam contra eles… Mas, sentiam que estavam numa época especial, num momento crucial da história. As suas acção podiam mudar todo o rumo de uma cidade. De um império. Da História.

Sem comentários: